Tecnologia
4G por que temos a sensação de que o não funciona?
De acordo com a Abrintel, o número de antenas é peça fundamental para um melhor sinal do 4G. Se elas não estão em número suficiente, a conexão certamente será pior.
O Brasil está em má posição em rankings que medem o 4G no mundo, e piorou nos últimos tempos. Esse é o resultado do mais recente relatório lançado em fevereiro deste ano pela empresa OpenSignal.
Bom, para quem use diariamente o celular essa revelação não é nada surpreendente - a sensação é de que as redes celulares realmente pioraram apesar de as operadoras tentarem passar uma imagem diferente. Então, o que está acontecendo com o 4G nacional?
O que define uma internet móvel de qualidade são três pontos: cobertura, velocidade e latência. Isso significa não apenas ter o sinal presente, mas uma navegação com rápida transmissão de dados e um menor tempo de espera entre o momento que você faz um comando e ele é respondido. Por exemplo, abrir um site e ele carregar, ou o tempo que um email enviado leva até chegar em seu destino. Para ter tudo, um único elemento é fundamental: infraestrutura que comporte a demanda.
E parece que as coisas não andam caminhando com a velocidade necessária. "Existe um plano de governo para trazer o 5G, mas existe um desafio preliminar que é fazer o 4G funcionar de fato", diz André Miceli, coordenador do MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A gente não tem estrutura para suportar a quantidade de aparelhos. O fato do celular sair do 4G para entrar no 3G em alguns momentos está muito ligado a quantidade de aparelhos conectados naquele espaço
André Miceli, coordenador do MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV)
O crescimento foi realmente exponencial: nos 12 meses entre janeiro de 2016 e 2017 o acesso ao 4G cresceu em 130%, com 36,8 milhões de novos acessos. Só em janeiro de 2018, foram 74 chips de 4G ativados por minuto, somando no mês 3,2 milhões de novos acessos. Ainda segundo a Telebrasil, ao todo o Brasil já tem 105,5 milhões de chips 4G.
Não é só questão de quantidade
"Quem fica com a localização ligada o tempo todo, por exemplo, está continuamente transferindo dados. Se muitas pessoas estão transferindo muitos dados em uma mesma área, a infraestrutura não aguenta, mudando alguns de faixa de transmissão, caindo para o 3G", diz ele. E, claro, se você recebe notificações o tempo todo, mesmo quando o celular está no bolso, significa que você está usando a rede, mesmo que não esteja utilizando ou visualizando essas informações naquele momento.
Philip Burt, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, concorda que a chave para entender porque o 4G ainda é instável está na falta de uma grande densidade de estações celulares.
Para isso acontecer, diz ele, algumas mudanças são necessárias, como investimentos visando a infraestrutura e maior agilidade na autorização da instalação de estações celulares.
A liberação de antenas é uma responsabilidade das prefeituras, que têm regras próprias para autorização. A burocracia pode ser grande. Segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel), na cidade de São Paulo o sinal verde pode demorar até cinco anos.
De acordo com a Abrintel, o número de antenas é peça fundamental para um melhor sinal do 4G. Se elas não estão em número suficiente, a conexão certamente será pior.
E a Anatel?
Era de se esperar que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) cobrasse mais qualidade das operadoras, mas ela lava as mãos. A agência diz que como o serviço de telefonia móvel no país é privado, pressupõe que a oferta e a cobertura do serviço dependa do interesse das prestadoras, salvo quando a Anatel determina um mínimo de cobertura.
"O último leilão realizado previu que as operadoras deveriam ofertar o 4G em todos os municípios com mais de 30 mil habitantes até 2017. Assim, pode haver distritos/bairros, onde não há cobertura ou onde o sinal é residual. Ademais, não há compromisso para cobertura de estradas e rodovias. Nesse sentido, quando há cobertura, é por decisão das próprias empresas", afirma Gustavo Santana Borges, gerente de Controle de Obrigações de Qualidade da Anatel.
Ou seja, se o seu pneu furar na estrada e você estiver alguma cobertura de sinal, é porque as operadoras quiseram ter uma torre de transmissão na região. Não porque foram obrigadas.
O que esperar
Nem tudo é má notícia. O presidente da empresa de telecomunicações Teleco, Eduardo Tude, afirma que podemos esperar mudanças positivas nos próximos meses, tudo graças ao desligamento das TVs analógicas. Elas utilizavam a frequência de 700 MHz, que agora está sendo liberada. Ou seja, aos poucos, Tim, Vivo e Claro vão poder distribuir o 4G também por essa frequência.
A mudança é importante porque atualmente são usadas frequências de 1.800 MHz e 2.500 MHz, e uma menor faixa de frequência vai significar um sinal mais potente e uma velocidade muito maior.
Além disso, a ideia é de que essa nova faixa vá abrir uma nova possibilidade de via de transmissão de dados.
Liberando uma nova faixa de frequência se divide o fluxo, quem é 3G vai ficar na faixa mais alta, enquanto usuários do 4G e 4,5G vão migrar para as faixas mais baixas, aumentando a velocidade
Eduardo Tude, presidente da Teleco
Quando utiliza frequências mais altas, o 4G e do 4.5G não conseguem atingir todo seu potencial, por isso essa nova faixa vai impulsionar uma melhoria dos serviços.
Segundo o diretor de tecnologia da TIM, Leonardo Capdeville, 40% da população já tem acesso a essa frequência mais baixa. "Já foram liberadas as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste do país. A partir do meio de 2018, deve acontecer com o Sudeste, e até o fim do ano, com o Sul do Brasil". Apesar de a frequência já ter sido liberada, ainda não há dados que comprovem se ela já está efetivamente auxiliando no aumento da velocidade 4G nessas regiões.
Com a liberação da frequência de 700 MHz, a promessa é de que nessa altura no ano que vem, o Brasil vai conseguir levar até o consumidor o potencial esperado de uma internet móvel de qualidade. É esperar para ver.